... E O HOMEM CRIOU DEUS!

Um dia a paz reinava no mundo e tudo era belo e silencioso.



Deus criou o homem e ficou feliz.

Ele com a sua sabedoria, encantou as florestas com os pássaros para entoar nossos ouvidos com suas melodias; vislumbrou as montanhas com rios e cachoeiras para encantar nossos olhos; acendeu o sol com a sua luz de energia para regenerar a vida; soprou a brisa para acalentar a luz do sol. E a natureza respondeu produzindo alimentos.




E o homem criou Deus.

Um Deus que avança na ambição, que recolhe dinheiro em sacolas, que desmata, queima, aprisiona.

Um Deus que grita, estanca, polui, que mata.



Onde está o verdadeiro Deus?

O Deus que me deixa pegar frutas no cerrado, observar os pássaros da florestas, os animais nos pampas.
Comer jatobá, macaúba, mangaba, barú, ananais, pequi, araticum e gabiroba.

Saborear amoras colhidas na ribanceira, os veludos e azedinhas nos grotões da mantiqueira.



Eu quero o meu Deus de volta. Ele sim é capaz de transformar a sua propria criação para inverter o invertido, e fazer para mim um mundo mais divertido. Com pessoas que sorri, que conta história, que pula e se emociona.



Eu quero de volta o meu Deus...


Paulo Freitas/2010





terça-feira, 24 de agosto de 2010

UMA SABIÁ FEZ NINHO NO MEU QUINTAL

Acordei às seis horas da manhã desta terça-feira, e, com minha cabeça ainda no conforto do meu travesseiro de “penas de ganso”, ouvi ao longe, o canto de uma sabiá. - Parece que estamos na roça! – Pensei. Fazendo a higiene matinal, ainda conseguia ouvir aquele canto característico, cada vez mais perto e mais longo. - Ele deve estar procurando uma companheira. – Pensei. Imaginei a solidão de um passarinho a cantar, procurando alguém que lhe oferecesse um pouco de carinho e calor nas noites frias deste inverno. Talvez estivesse cantando a tristeza de uma viuvez precoce, provocada por um desnaturado inimigo da natureza, que para sua alegria pessoal e egoísta, houvesse capturado a sua companheira. Continuei a ouvir. Da janela do quarto entreaberta, pude perceber que aquele canto melancólico melodioso vinha talvez do nosso pé de ipê. Fiquei atento para observar a ave que tão raramente víamos em nosso quintal urbano, mas não consegui, apenas continuei a ouvir o seu canto, enquanto preparava o café da manhã antes de seguir para o trabalho cotidiano. As melodias dobravam em notas singelas de chamado, mas nenhuma nota se ouvia em resposta. Depois do trabalho ao entardecer, ainda ouvi o triste cantar daquele pássaro e então pude observá-lo rondando o meu quintal com seu bico a gorjear frases irreconhecíveis ao nosso ouvido, porém com notas muito mais intensas, mostrando a sua insistência na busca de sua parceira. Na quarta-feira de manhã, mobilizamos toda a família para ficarmos atentos ao pássaro. Não foi difícil encontrá-lo pousado na jaboticabeira a gorjear. A surpresa porém foi muito grande, quando lá estavam, não apenas uma ave cantando feliz, mas outras três companheiras já buscavam a solidariedade daquela alma. Ficamos muito mais felizes ainda, quando percebemos que os dois casais, sim, os dois casais, procuravam insistentemente sobre as folhas da palmeira imperial, um lugarzinho para construírem seus o ninhos de amor. Com a câmera em punho, rastreamos o seus movimentos e com ela capturamos sua insistência em mostrar para sua nova companheira o lugar que escolhera para viverem felizes para sempre. Como nós, seres humanos, este sabiá busca a felicidade. Mas para nós há um sério agravante: não sabemos cantar a melodia certa para o chamamento da cara metade. Quantas pessoas saem à noite para as baladas à procura de um companheiro ou companheira, que as façam felizes de verdade. Não sabem cantar a melodia do encontro e se sujeitam a cantar qualquer música atraindo indesejáveis companhias. Quantas pessoas infelizes choram sua tristeza, por trás de uma dezena de beijos equivocados, de uma noite banhada de melodias alcoólicas? Quantas pessoas fazem chorar quando tentam cantar, sem saberem direito o canto e se perdem precocemente no óbito de acidente ou drogas? Quantas almas são perdidas. Quantas vidas... Tem uma família de sabiá na minha casa. Eles construíram seus ninhos nas árvores do meu quintal. (Fotos: Maria Beatriz)

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