... E O HOMEM CRIOU DEUS!

Um dia a paz reinava no mundo e tudo era belo e silencioso.



Deus criou o homem e ficou feliz.

Ele com a sua sabedoria, encantou as florestas com os pássaros para entoar nossos ouvidos com suas melodias; vislumbrou as montanhas com rios e cachoeiras para encantar nossos olhos; acendeu o sol com a sua luz de energia para regenerar a vida; soprou a brisa para acalentar a luz do sol. E a natureza respondeu produzindo alimentos.




E o homem criou Deus.

Um Deus que avança na ambição, que recolhe dinheiro em sacolas, que desmata, queima, aprisiona.

Um Deus que grita, estanca, polui, que mata.



Onde está o verdadeiro Deus?

O Deus que me deixa pegar frutas no cerrado, observar os pássaros da florestas, os animais nos pampas.
Comer jatobá, macaúba, mangaba, barú, ananais, pequi, araticum e gabiroba.

Saborear amoras colhidas na ribanceira, os veludos e azedinhas nos grotões da mantiqueira.



Eu quero o meu Deus de volta. Ele sim é capaz de transformar a sua propria criação para inverter o invertido, e fazer para mim um mundo mais divertido. Com pessoas que sorri, que conta história, que pula e se emociona.



Eu quero de volta o meu Deus...


Paulo Freitas/2010





quinta-feira, 25 de novembro de 2010

BENÇA, MAMÃE

O portão se abriu e ela veio sorridente me receber. Um abraço gostoso de amor verdadeiro, de paz, de alegria, de satisfação. Bença, mamãe! Deus te abençoe, Paulinho. Deus abençoe você por ter vindo me ver. Um beijo na minha face sacudiu as minhas emoções. Já fazia mais de quinze dias que eu não via a minha querida mãe. O meu coração chorou mais ainda quando sentou-se do meu lado, apanhou a minha mão e perguntou: - Você está bem? Estou preocupado com a sua saúde. Você está fazendo o regime que o médico pediu? Fiquei com vontade de perguntar sobre a saúde dela, mas não perguntei, apenas respondi efusivamente às suas perguntas, como se a minha saúde era tudo de mais importante no mundo. De repente me senti pegado no colo. Ela me abraçou, me falou da vida, da perseverança, das minhas doenças infantis e da minha adolescência. Deitei no seu colo e com lágrimas nos olhos falei das minhas fraquezas, dos meus medos, da minha incoerência e da minha incompetência de amar a vida na plenitude. Ela me afagou. O seu afago me tornou criança. Fechei os olhos ainda molhado e lembrei-me da sua proteção quando na minha timidez me escondia do mundo e da realidade. Vi-me ainda descalço pisando num caco de vidro e a busca desesperada do pó de café para estancar o sangue que não parava de jorrar. Nos primeiros dias de aulas, o carinho com que penteava meus cabelos para que eu ficasse “mais bonito”. O caldeirão de comida e o embornal azul que entregava em minhas mãos, prontos para o caminho da escola. Vi-me na adolescência tomando atitudes contra a vontade do meu pai e ela me apoiando incondicionalmente. Vi-me moço, chegando da faculdade tarde da noite e encontrando em cima do fogão o prato pronto do meu jantar. Vi-me homem, já formado, anunciando o meu casamento. Senti a separação naquele momento. Abri os olhos de sobressalto, olhei em seu rosto e vi no seu semblante o peso da velhice dos seus quase oitenta anos. Levantei-me do seu colo, abracei-a muito apertado e disse-lhe olhando nos olhos: - Mamãe eu te amo muito. Ela chorou. Um choro contido de alegria. Levantou-se, foi até a cozinha, enxugou os olhos e me convidou: - Vem pra cá Paulinho. Vou fazer um café prá nóis... - Esfreguei os olhos com as costas da mão direita e fui sentar-me na cozinha enquanto do fogão exalava o cheiro gostoso do café fresco. Ela serviu o café com um naco de biscoito de polvilho e um queijo meia cura. Conversamos ainda por meia hora. Um forte abraço e um beijo selou a despedida. - Tchau! Bença mamãe. Eu te amo muito. - Tchau, me filho. Deus te abençoe. Eu também te amo muito. Paulo Freitas Nov/2010

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

ENCONTRO DE GERAÇÕES

Um vazio de silencio ecoa nos ruídos dos palavreados e a voz miúda do anfitrião cambia simples e tímida na intenção de agradecer tamanha homenagem ora prestada ao sexagésimo aniversário de vivencia. Os olhos úmidos pela sinceridade das palavras causaram emoção nos corações dos fraternos presentes que num desabafo replicou uma grande salva de palmas. O segundo de seis filhos de um casal de sertanejos, ele ainda traz nas palavras os sotaques e trejeitos do jeitão de caipira que muito o orgulha. Amante da música sertaneja raiz e das danças típicas como o catira e a chula, busca a alegria de viver em toadas que o seguiram pela infância afora e o conduziram em caminhos de caráter e retidão. Lembra-se com muito orgulho, das responsabilidades de trabalho designadas pelo pai na lida do café e das hortaliças que fora os dois grandes esteios da manutenção e da fartura da família. Recorda-se com tenacidade de grande auto-estima dos momentos em que, na ausência do pai, tomara atitudes de liderança na posição de filho mais velho, como no momento de mudança radical dos rumos da família, quando ao término do contrato da cultura do café, foram obrigados a tomar o caminho da cidade para buscar a sobrevivência em tempos de êxodo rural. Com dezenove anos incompletos, formação escolar primária e uma vivencia apenas rural, foi titulado pelo pai como ator principal de teatro de ações que começara na entrega do sitio, a venda dos animais e até a viagem levando a família em definitivo para morar em Campinas. Moço de linhagem simples e cultura sem privilégios aprendeu com o pai que o trabalho é tudo para o homem, que o caráter, o respeito e a responsabilidade permeia o palco de qualquer relação, e que o pódio de cada conquista depende da determinação e da confiança com que se encara o jogo. No acúmulo de troféus e vitórias, enumera-se grandes eventos importantes como a escolha da grande companheira que trilhou e direcionou os caminhos da vida a dois; o nascimento das duas filhas que enfeitaram, movimentaram e deram sobrevida ao casamento dos dois que fora traçado e escrito nas estrelas. Outros momentos a enumerar foi o nascimento dos netos, que entre os reveses, encontros e desencontros, foram recebidos dentro de lares cheios de amor e harmonia e com o compartilhamento e humildade conquistaram a educação e a disciplina que precede o exemplo e o modelo dos pais. Campinas foi o palco deste grande encontro. Presentes a matriarca, todos os irmãos, filhas, genros, netos, sobrinhos, cunhados, primos e amigos. Este reencontro de família foi infinitamente lindo e marcante para todos, pois lembra momentos de alegria quando ainda tinha viva a presença do pai entre todos. Lembra também o desencontro, quando foi preciso deixar os fraternos em Campinas e buscar em Fernandópolis a independência financeira. A grande distancia da família raiz por quase vinte anos veiculou a necessidade de atitudes de vida que engrandeceram as experiências, elevaram as motivações e criaram novas histórias, pitorescas ou não, mas que deverão ser contadas nas prosas do cotidiano e nos teatros familiares onde as platéias com certeza serão de netos e bisnetos e estarão atentos aos detalhes das lembranças e aos cabelos brancos que hão de povoar a sua cabeça, o disco rígido armazenador de memórias, onde hoje com certeza ainda sobram espaços e muitos gigabytes para preencher.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O VEGETAL E A VIDA

O nosso cérebro, comandante geral do nosso corpo, tem uma memória complexa que guarda informações de todas as funções do nosso organismo, tanto digestivo, circulatório, respiratório, nervoso, muscular, urinário, ósseo e reprodutor. O sistema nervoso é mais complexo de todos, pois ele em parceria com o cérebro, segue desencadeando inúmeras funções. Veja o caso das drogas e dos vícios, por exemplo, o dependente fica desesperado e faz coisas sem noção como roubar, matar e outros enguiços ilegais, e se tentar deixar o vício, o corpo não suporta a síndrome da abstinência entrando em estado de pânico. Mas tem também o sistema endócrino, responsável pela produção de hormônios, que com uma precisão medonha, informa o sistema nervoso das coisas que acontecem por fora do corpo. Nesta equipe de órgãos trabalham o pâncreas, a hipófise, o hipotálamo, a pineal, a tiróide, a medula óssea e outros tantos que juntos determinam se o dono do corpo cuida bem dele ou não. Eu passei a vida toda achando que cuidar bem do corpo era tomar banho diariamente, comer bem e bastante, repousar, escovar os dentes e cortar as unhas. Esqueci-me, por exemplo, de fazer atividades físicas com regularidade, escolher bem os alimentos consumidos e respeitar os excessos não permitidos. Hoje, depois de uma cirurgia radical e ter passado quarenta dias sem alimentação sólida, descobri que o meu pâncreas não está mais em harmonia com o sistema nervoso e não está produzindo as insulinas suficientes para o bom desempenho do sistema digestivo, o que é necessário para produção das energias vitais do meu corpo. E isto foi de repente. Comecei a perder peso muito rapidamente e fiquei preocupado. Procurei um especialista no assunto, o endocrinologista, que me orientou: - Dieta radical, meu companheiro! Ou você controla a sua alimentação de carboidratos ou vai sofrer conseqüências terríveis que o diabetes provoca no seu sistema vital. Uma das conseqüências mais comum é a cegueira. - Deus me livre, pensei. – Quero enxergar a vida em cores e não a escuridão. O médico informou-me de um site na internet onde existe um manual de alimentação e uma relação de carboidratos que compõem cada alimento. Na linguagem técnica, carboidratos quer dizer açúcar e este é o vilão da nossa vida. A dieta que o médico me passou nada mais é do que a alimentação saudável sem muitos açúcares, que todos deveriam seguir desde a infância. Olhei cada alimento, de A a Z, e descobri que somente os alimentos naturais não são prejudiciais à saúde. As carnes, o peixe e o leite e seus derivados, se consumidos com devidos critérios, também devem fazer parte da alimentação balanceada. Nesta lista de alimentos sem carboidratos, glicose ou sacarose, descobri os alimentos amigos, os nossos super heróis: eles mesmos, os vegetais. Eles são necessários para a vida e devem ser nossos companheiros. Alem de não conter carboidratos em excesso, também possuem fibras que regulam o bom desempenho da digestão. Eu ouvia falar das pessoas que optavam pela alimentação somente de vegetais e ficava transtornado. Se o homem é considerado carnívoro, porque estas pessoas inventam esta história de alimentar-se diferentemente do padrão? E o churrasquinho de fim-de-semana, como é que fica? Em minha opinião, não é necessário ser vegetariano nem naturalista para viver bem, é necessário sim escolher bem os alimentos e praticar atividades físicas. Você pode participar de uma churrasqueada e controlar a sua gula ingerindo juntamente com as carnes vermelhas, algumas carnes brancas, verduras e frutas. Tenho um amigo de infância que teve uma vida sedentária trabalhando como motorista muitos anos e ficou diabético ainda muito novo (cerca de 35 anos), mas não teve nenhuma atitude alimentar ou física e com quarenta anos já tomava insulina. Hoje, alem da insulina, faz hemodiálise duas vezes por semana. Aprendi um pouco tarde, mas ainda é tempo de controle, antes de ter que usar as insulinas sintéticas, quero controlar o diabetes com boa alimentação e sempre e dentro das possibilidades físicas, praticar algum esporte, pois, para que não terminemos nossa vida vegetando, devemos ser amigos do vegetal, porque são eles que vão nos proporcionar longevidade e saúde. Paulo Freitas- Nov/2010.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

INVERSÃO DE VALORES

Uma manchete do jornal nos chama a atenção:” Um carro-bomba explodiu em Jerusalém”. “Com certeza foram grupos militantes palestinos” afirma o correspondente do jornal. Será a mesma Jerusalém da bíblia? Serão os mesmos palestinos? O que faz com estes povos se enfrentam tanto? O mundo é movido por interesses. A quem interessa esta guerra? Aos Estados Unidos? É certo que muitos tipos de armas estão sendo testados nos campos de batalha de Israel. Muitos mísseis, muitos tanques. O povo é usado como massa de manobra.Aqui no Brasil também vivemos uma guerra. De um lado bandidos organizados com armas sofisticadas e de outro a polícia sempre mal avisada, surpreendida e mal aparelhada (mal preparada). Enquanto os traficantes de armas e drogas usam micro-câmeras, Internet, tecnologia de última geração, os policiais brasileiros continuam a usar o revólver calibre 38 (ou de 1938) como arma de mão. A quem interessa esta guerra? Porque não se prendem os cabeças? Será que não se sabe quem são? Porque será que a CPI do Narcotráfico sempre esbarra em políticos, empresários, religiosos e poderosos que nunca vão para a cadeia? Os valores estão se invertendo. Os bandidos estão controlando a polícia, os bairros, as cidades. Daqui a pouco, muito pouco, os bandidos irão controlar as prefeituras, o estado, o país. Que direito é este que o bandido tem de usar telefones celulares nas celas, televisor a cores, cardápio nutricional, serviço de saúde especial e ar condicionado? Porque nós, cidadãos de bem não o temos. Nós também temos direitos de ter direitos.Quem mantém estas ONG’s ( Organizações Não Governamentais) que defendem os direitos humanos dos bandidos? Teremos também uma ORGANIZAÇÃO GOVERNAMENTAL que defenda nossos direitos?

sábado, 18 de setembro de 2010

PASSAMENTO

Estremece onde ela passa,
o medo interrompe o riso.
Apaga-se a visão do paraíso,
Estrada esburacada sem horizonte.
Imagino somente dor por trás dos montes.
 A cobra prepara o bote a chacoalhar o guizo

Uma nevoa de esperança,
Que o vento esmaga.
 O fio de luz quase se apaga .
Nos arredores preces e orações .
As energias de Deus, sagradas emoções.
 Com a inimiga da vida, principia a saga

Reflexos de cores,
Luzes cirúrgicas se faz presente,
Brancos aventais me cobrem a mente.
 Liquido venoso me leva ao sono .
Transformo num corpo em abandono.
 Bisturis em riste, cortes contundentes

Esvai-se a alma fica o silêncio,
Momentos rápidos de decisões.
 Dilema de duas contradições .
Arriscar tudo é o sensato.
 Ferramentas tilintam no aparato.
Morte súbita numa posição.

Dilacera corpo inerte,
 Dentro de minha alma arranha.
oentes órgãos das minhas entranhas,
Ágeis mãos de homens benditos.
Energias divinas que acredito .
Formam trincheiras na batalha ganha.

Passei da vida por um minuto.
Senti a morte por um momento .
Dois dias de passamento .
Lembranças brancas, sem cores .
A Deus devendo favores .
Aprendi a amar com mais intento.

Set/2010

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A BOMBA DE 70

A nossa cachorrinha ficou proibida de entrar para dentro de casa. É uma norma que é obedecida quase sempre. A exceção é quando, por motivo de jogos de futebol ou outro evento de comemoração, soltam fogos de artifício. Dá muito dó de ver o desespero do animal a procurar um lugar seguro para se esconder. Ela enfrenta toda a autoridade da casa, invade a sala e o quarto para se enfiar debaixo da cama, e de lá só sai quando percebe que o perigo já passou. Ou então para buscar outro esconderijo. Aí sim, somente nesta condição fica liberada. Eu não sou cachorro não, mas todas as vezes que escuto barulho de rojão fico também muito assustado. O meu coração acelera parecendo um martelo pneumático, daqueles que quebram os concretos por aí. Lá em casa nunca entrou nenhum tipo de bomba ou rojão. Os meus filhos, quando eram pequenos, pediam pra comprar bombas e eu logo respondia: - Se quiserem, eu compro traque, mais do que isso eu não compro,não. O meu sogro compra pra soltar lá no sítio dele. Diz que é para espantar os bichos que rondam por lá e dão prejuízos: as lontras que roubam os peixes do açude, os gambás que mexem com as galinhas e outros animais silvestres noturnos que insistem em buscar alimentos nas criações do sítio. Mas em tempos de comemoração ele também solta rojões. No dia de Nossa Senhora, 12 de outubro, ele sempre queima uma ou duas caixas de rojões de três tiros para comemorar. Se ele fica feliz por alguma vitória alcançada ele solta as bombas e grita viva. Eu já fico longe destas atitudes. Sempre acho que vai acontecer uma tragédia. Igual àquela que aconteceu quando eu era menino com o Mané Vilela, um colega de escola e vizinho na minha cidade natal, no interior do estado de São Paulo. Era mês de junho, naquela época ninguém tinha muito controle sobre as vendas de fogos de artifício como hoje. Qualquer um podia comprar bombinhas no armazém do Seu Osvaldo Calgari. Lá tinha desde traque até bomba de 100, que eram aquelas de arrebentar latas de vinte litros com cinco tijolos em cima, um perigo. Os meninos pediam dinheiro pra mãe pra poder comprar balas e ia ajuntando até ter o bastante para compras as bombas. Naquele dia o Mané Vilela, filho do Seu Miguel, que era nosso vizinho de sítio, tinha comprado algumas bombas. A gente estudava de manhã: entrava às sete horas e saía às onze, que era tempo de ir pra casa e ainda pegar no batente no período da tarde. O Mané fez muita propaganda das bombas que comprou, por isso a escola toda estava sabendo que ele iria fazer um barulho enorme com elas. Tinha uma bomba de 70 e outras tantas de 50, estava tudo preparado para soltar logo na saída do portão da escola. Os alunos foram saindo e se aglomerando na rua, aguardando o show prometido. O Mané Vilela foi descendo a escada que dava acesso ao portão e verificou no embornal pendurado no pescoço se as bombas estavam lá. No bolso do calção, uma caixa de fósforos que trouxera de casa balançava no toque firme ao chão dos pés calçados com o “sete- vidas”, um calçado tradicional da época. Mané Vilela parou no centro da aglomeração, enfiou a mão dentro do embornal e escolheu uma bomba de 50, puxou a caixa de fósforo do bolso e preparou para acender o estopim. Todos se afastaram para dar espaço para a explosão. O Pedro, filho do Tatinha, um menino da quarta série, trouxe uma lata de massa de tomate, que era para cobrir a bomba para que ela tivesse mais impacto. - Sai de perto que eu vou soltar. – falou bem alto o Mané. – Sai todo mundo de perto. – repetiu. Riscou a bomba na lateral da caixa de fósforo e jogou. A bomba caiu no chão e o Pedro saiu correndo em direção à ela e cobriu-a com a lata de massa de tomate, cobriu-a e voltou correndo. - Bummm!. – a latinha subiu por mais de dez metros de altura e caiu despedaçada no chão. Todos aplaudiram. - Agora eu vou soltar a de 70. – comunicou. – Sai todo mundo de perto. Pegou a bomba, a caixa de fósforo e riscou. Quando ele jogou a bomba, pareceu que não tinha acendido o pavio. Esperou um pouco e nada aconteceu. - Falhou. - disse . Caminhou correndo em direção à bomba para riscá-la novamente, apanhou- a pelo corpo de pólvora, posicionou para acendê-la, mas a bomba já estava acesa. - Bumm!! Uma grande explosão se ouviu, um grito de sangue e de dor marcou aquele momento. Dois dedos da mão direita do Mané Vilela foram decepados e um fluxo de sangue jorrou no chão. A sua barriga também ficou um pouco queimada, mas a camisa o protegeu. - Socorro! Ajudem! - A pane foi geral. As crianças todas correram em direção às suas casas, assustadas com aquela tragédia Muitas pessoas adultas vieram correndo e levaram o Mané para a farmácia. Depois é que ficamos sabendo que o Mané perdeu também um pouco da visão por causa daquele acidente. Todos foram para casa cabisbaixos. O resto do dia foi de tristeza. A história serviu de exemplo para os pais ficarem mais atentos com as crianças na hora de autorizarem o uso de fogos. A escola proibiu as crianças de soltarem bombas no portão da escola, mas na mão do Mané Vilela ficaram faltando dois dedos. Depois daquela tragédia, eu nunca mais quis participar de nenhum evento que fossem usados fogos de artifício, não por medo, mas sim por respeito ao poder da pólvora, que é uma das substancias principais que se junta para construir armas de destruição. Paulo Freitas – Set/2010

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

MEU PÉ DE TAMARINDO

O pé de tamarindo da minha infância Ainda balança nos meus sonhos de menino Seu caule que um dia pequenino Cresceu fazendo sombra aos meus brinquedos Cobriu de esperanças os meus primeiros medos Foi tela de minhas arteirices e lembranças Num palco de pedregulho, ostensivo chão Seguindo o veio de raízes despedaçadas Com ferramentas de pedras, construí estradas Transportei sementes de sonhos infantis Nas poças secas, pesquei bagres e lambaris Pequenos córregos eram rios de imensidão No pé de tamarindo da minha infância Construí caminhos suaves de futuro Que transcenderam a parede e o muro Numa aeronave qualquer ganhou alturas Um vôo suave de aventuras Sonhos de vida em abundancia As folhagens que sombreiam minha emoção Escondem frutos de sentimentos e alegrias Meu pé de tamarindo das fantasias Norteou minha vida à realidade Cavou no peito uma raiz de saudade Criando uma gostosa dor no coração.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

BIENAL DE EMOÇÕES

A van estava parada defronte ao Largo do Pará em Campinas. Todos estavam ansiosos para tomar seus lugares para visitar no Parque Anhembi a XXI Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Pessoas estranhas se entreolhavam a buscar no outro um particular ou um motivo para iniciar uma conversa. O condutor seguiu em movimento cumprindo o seu papel. A viagem foi curta, mas com tempo suficiente para cumprir uma relação de amizade que se tornou forte na medida em que os objetivos em comum foram se tornando concretos em frases rápidas de trocas de endereços eletrônicos, informações, poesias, livros e sonhos. O saguão do parque mostrava painéis com nomes de grandes editoras, escritores famosos, imortais e grande quantidade de títulos desfilavam aos nossos olhos. A cada frase escrita nos levava a um passeio diferente no tempo e no espaço: contos, poesias, receitas culinárias, auto-ajuda, dietas, buscas, encontros, como fazer isto e aquilo. O Sarau da Silvia, para o qual estávamos convidados começaria às oito horas da noite. Estávamos com tempo disponível para vasculhar o espaço todo. Um grande estande nos chamou a atenção pela sua estrutura e pelo nome que ostentava em sua frente: MELHORAMENTOS. Logo que entramos, vimos um senhor que pelos seus cabelos brancos, aparentava uns oitenta anos, a remexer nas prateleiras de livros de receitas na sessão de culinária. Aquele homem nos chamou a atenção: além da sua idade avançada, mas também por estar portando uma tala de gesso no antebraço esquerdo o que imobilizara este membro através de uma tipóia presa ao pescoço. Não resistimos e fomos logo fazendo um contato para iniciar uma conversa. Ele nos disse que estava olhando os livros de receitas, mas que estes livros tinham muitos ingredientes sofisticados. Disse ter trabalhado num restaurante quando ainda era moço e que naquele tempo se fazia os pratos com temperos simples comprados no mercado municipal. Hoje são tantos nomes estranhos que (...). Agora ele estava aposentado; há dez anos ensinara dança num clube de São Paulo do qual se orgulha muito e até hoje dança nos bailões da terceira idade. Falou-nos do seu tempo de menino, da liberdade de brinquedos, do respeito das pessoas e das diferenças sociais. Relembrou as festas da juventude, de suas namoradas e da sua virilidade; dos passeios com amigos e das notas na escola. Criticou os governantes, a política e as guerras da infância. Relatou com muita saudade de sua amada e companheira, mostrou-nos como foi sublime ter sua missão cumprida. A conversa rendeu quase uma hora de histórias. Talvez um livro completo. No final das contas demos um grande abraço naquele homem desconhecido e o beijamos em sua face áspera com a barba por fazer, tiramos uma fotografia e demos a ele um livro de nossa autoria que o deixou com os olhos umedecidos e a voz embargada de alegria e agradecimento. Em toda Bienal encontramos livros de todos os tipos, escritos em diversas línguas, diversas formas e tamanhos. Mas ninguém, temos certeza, ninguém encontrou o livro mais sofisticado que nós. Encontramos um livro vivo, que trazia em sua capa o pó das viagens de vida, e nas páginas amareladas as orelhas causadas pelas repetidas vezes que as folhearam em busca de ensinamentos e experiências. Um livro que não precisava de olhos para ver, nem braços para segurar, apenas ouvidos para ouvir e muitas emoções para sentir. Trouxemos conosco algumas páginas desse livro em nosso pensamento e que serão lidas todas as vezes que encontrarmos alguém que queira ouvir esta história.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

A Gotinha Mágica

No vapor do calor A planta padece Um véu cobre o céu A terra escurece. Então se renova um novo sertão Da flor de repente A semente é o pão . O verde sem sede Renasce contente. O broto no toco É nova semente. Então se revive a vida no chão . A flor de repente A semente é o pão Cai a gotinha na sua folhinha Plim, plim, plim, plim Plim, plim, plim,plim. O calor se expira e a planta respira Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O grão de areia

Na estrada que liga Caconde à Divinolândia, duas cidades próximas à Poços de Caldas, observei uma placa de indicação para uma certa " Praça do Mirante" e resolvi desviar do caminho para conhecer o tal ponto turístico.Cravado na Serra da Mantiqueira, à mais ou menos um quilômetro da estrada e onze quilômetros de Caconde, o local foi presenteado pelo pode público com uma estrutura em forma de observatório, donde pode-se enxergar a vida e a natureza num raio de dezenas de quilômetros em todas as direções. Uma série de vales e montanhas e grande porção de água represada pela Empresa Furnas, deslumbra pela beleza de um horizonte cada vez mais belo, com veios de plantações de café, batata e cebola. Observando os pontos mais distantes notamos sempre o encontro do céu com as pontas dos morros mais altos, nos tirando o poder de ver mais longe. Esta realidade maravilhosa da natureza nos faz repensar o nosso pequeno tamanho em relação à grandiosidade do poder da criação divina.Quantas vezes passei por aquela estrada cheia de curvas e barrancos e não consegui sequer imaginar o imenso poder do universo de criar e destruir. Imaginei o sol escurecendo e fazendo-se noite e olhei para o céu azul imaginando o espetáculo que ele nos proporcionaria à noite com seus pontos de luzes entre estrelas, planetas e meteoritos a se moverem. Imaginei se este mesmo sol, responsável pela criação do verde, da vida, da energia, se movesse um pouquinho mais em nossa direção com seu calor intenso. Que destruição teríamos na Terra: as águas se transformariam em vapor, a terra se tornaria um imenso deserto e todos os seres vivos sofreriam completa mudança de comportamento e destruição. Assim como a natureza, os homens também podem, dentro de sua pequenez, construir ou destruir, ajudar ou prejudicar, amar ou odiar, participar ou se esconder. Idéias inovadoras podem parecer fantásticas ao primeiro olhar ou percepção, mas se olharmos nos seus horizontes, nas suas nascentes, talvez descubramos o fator destrutivo que elas trazem no seu âmago. Quantas leis ou idéias nossos representantes do governo aprovaram em nome do desenvolvimento e da modernidade que estão se transformando o nosso lugar de viver (Brasil) num próspero mundo de ignorância, violência, de destruição da natureza e do próprio homem. Mas apesar dos homens, o Criador, dentro de sua grandiosidade, pode atender às nossas orações e fazer com que os cidadãos da nossa terra possam: participar mais, escolhendo pessoas mais sábias da lei divina; construir mais conhecendo as prioridades do mundo; amar mais sentindo no coração o desejo de ser solidário. Porque a Terra é apenas um grão de areia neste universo sem fim e o homem é um microorganismo que se multiplica sem controle e se fortalece bombardeando ações em todas as direções do cosmo. Uma foto eternizou aquele momento e seguimos viagem em busca do nosso destino.

A JABUTICABEIRA

Um dia eu plantei uma jabuticabeira no meu quintal e quando ela soltou as primeiras folhinhas sob os meus cuidados, pensei: - Puxa, vai demorar sete anos para que eu possa colher algumas frutinhas dessa árvore... E a árvore cresceu um pouco. No ano seguinte já soltava os primeiros galhos e eu já aproveitava de sua sombra. Todos os dias eu a via com folhinhas novas, a refrescava com água fresca e a saudava com palavras de ordem: - Cresça logo, seja forte! Meus filhos vendo-a forte e vigorosa começaram a cuidar dela também. E ela cresceu e tantas coisas aconteceram. Depois de um trágico momento de minha vida e passar por uma quarentena no hospital, voltei para casa deprimido e achei que não podia mais cuidar da minha jabuticabeira, mas ela respondeu com uma nuvem branca de flores perfumadas e me saudou com uma palavra de ordem: - Seja Forte! Você um dia ainda vai subir nos meus galhos para colher os meus frutos. E assim foi...Ontem eu amarrei a rede em um de seus galhos, aproveitando de sua sombra, fechei os olhos preguiçosamente e pensei: - Um dia eu te plantei pequenina e afaguei suas pequenas folhas e hoje você me sustenta em teus braços. Desculpe por não ter braços tão grandes para acariciar toda a sua grandeza. Só posso dizer: - Muito obrigado... E ela respondeu com um silencio misterioso de paz, e eu adormeci sentindo o afago do frescor do balançar de suas folhas.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

UMA SABIÁ FEZ NINHO NO MEU QUINTAL

Acordei às seis horas da manhã desta terça-feira, e, com minha cabeça ainda no conforto do meu travesseiro de “penas de ganso”, ouvi ao longe, o canto de uma sabiá. - Parece que estamos na roça! – Pensei. Fazendo a higiene matinal, ainda conseguia ouvir aquele canto característico, cada vez mais perto e mais longo. - Ele deve estar procurando uma companheira. – Pensei. Imaginei a solidão de um passarinho a cantar, procurando alguém que lhe oferecesse um pouco de carinho e calor nas noites frias deste inverno. Talvez estivesse cantando a tristeza de uma viuvez precoce, provocada por um desnaturado inimigo da natureza, que para sua alegria pessoal e egoísta, houvesse capturado a sua companheira. Continuei a ouvir. Da janela do quarto entreaberta, pude perceber que aquele canto melancólico melodioso vinha talvez do nosso pé de ipê. Fiquei atento para observar a ave que tão raramente víamos em nosso quintal urbano, mas não consegui, apenas continuei a ouvir o seu canto, enquanto preparava o café da manhã antes de seguir para o trabalho cotidiano. As melodias dobravam em notas singelas de chamado, mas nenhuma nota se ouvia em resposta. Depois do trabalho ao entardecer, ainda ouvi o triste cantar daquele pássaro e então pude observá-lo rondando o meu quintal com seu bico a gorjear frases irreconhecíveis ao nosso ouvido, porém com notas muito mais intensas, mostrando a sua insistência na busca de sua parceira. Na quarta-feira de manhã, mobilizamos toda a família para ficarmos atentos ao pássaro. Não foi difícil encontrá-lo pousado na jaboticabeira a gorjear. A surpresa porém foi muito grande, quando lá estavam, não apenas uma ave cantando feliz, mas outras três companheiras já buscavam a solidariedade daquela alma. Ficamos muito mais felizes ainda, quando percebemos que os dois casais, sim, os dois casais, procuravam insistentemente sobre as folhas da palmeira imperial, um lugarzinho para construírem seus o ninhos de amor. Com a câmera em punho, rastreamos o seus movimentos e com ela capturamos sua insistência em mostrar para sua nova companheira o lugar que escolhera para viverem felizes para sempre. Como nós, seres humanos, este sabiá busca a felicidade. Mas para nós há um sério agravante: não sabemos cantar a melodia certa para o chamamento da cara metade. Quantas pessoas saem à noite para as baladas à procura de um companheiro ou companheira, que as façam felizes de verdade. Não sabem cantar a melodia do encontro e se sujeitam a cantar qualquer música atraindo indesejáveis companhias. Quantas pessoas infelizes choram sua tristeza, por trás de uma dezena de beijos equivocados, de uma noite banhada de melodias alcoólicas? Quantas pessoas fazem chorar quando tentam cantar, sem saberem direito o canto e se perdem precocemente no óbito de acidente ou drogas? Quantas almas são perdidas. Quantas vidas... Tem uma família de sabiá na minha casa. Eles construíram seus ninhos nas árvores do meu quintal. (Fotos: Maria Beatriz)

O PREGO

A vidas nos proporciona momentos de pequenas e deslumbradas reflexões. Num sábado ensolarado de maio, perto das três da tarde, convidei a minha esposa e companheira para dar um passeio, com o intuito de aproveitar algumas ofertas no supermercado encontradas num suplemento de jornal. Nos primeiros metros do percurso, descobrimos que a gasolina estava no final e decidimos desviar do caminho e completar o tanque. - Se o senhor quiser lavar o carro, pode encostar ali embaixo. Não tem fila nenhuma - o frentista falou olhando o carro de cima em baixo. Ele estava com toda razão, pois o nosso carro estava precisando de uma bela ducha. E aquela oportunidade era única e não podíamos perder. Encostamos o carro perto do lavador e ficamos a observar o homem a esfregar uma velha Caravan que por mais que a lavagem fosse no capricho nada mudaria a sua performance. - Vamos dar uma volta - convidou a minha esposa. Penso que deve demorar um pouco. Saímos a caminhar em volta do posto e encontramos dois paralelepípedos, previamente dispostos ao lado do muro, que nos convidava a sentar. Ao aproximarmos, avistei um prego que se escondia entre as pequenas gramídeas que crescia entre os losangos de concreto que calçava o chão. Sentei-me e apanhei aquele objeto e fiquei a imaginar como aquele prego, que a tanto tempo estava escondido entre as pedras e os arbustos, fosse chamar a minha atenção. As mãos ficaram amareladas por tocar ferrugens que já tomavam conta de toda a sua superfície. Era um prego grande, daqueles usados para fixar o madeiramento do telhado da casa. Era ainda sem uso. Observando o prego, o comparei à uma situação vivida por mim à algumas semanas quando uma pessoa, em uma conversa informal de assuntos comerciais, sentiu abertura par contar uma história de sua vida que me deixou perplexo, pois não podia imaginar, uma pessoa que via todos os dias, estivesse passando por tamanha dificuldade sem que meus olhos pudessem enxergar ou meus reflexos perceber. Depois daquela história, ficamos amigos e falamos da vida, das coisas puras. Falamos da família e do respeito. Falamos do mundo e dos sofrimentos . Falamos de gente e das emoções. Falamos pecados e de perdões. Falamos de Deus e da fé. Aquela pessoa, como o prego, estava ali o tempo todo, querendo ser "achada" e ninguém conseguia encontrá-la. Até que num revés da vida, uma olhada mais tênue, mais tranqüila ( talvez sem muito compromisso), conseguimos nos ver prontos a nos olhar por inteiro e se tocar nas emoções ( até manchar um pouco as mãos, como no prego), e descobrir que podia levá-la a um local seguro onde ela poderia ser útil. Assim como o prego que de novo pudesse ser conduzido à sua função definida, ela agora poderia ser novamente gente e pudesse ser conduzida a estrada reta e ser vista por todas as pessoas: de cabeça erguida e de peito aberto. Eu encontrei um prego e posso dar a ele um destino útil ao mundo. Eu encontrei uma pessoa que estava perdida e com um pouco de carinho, um pouco de ombro, um pouco de ouvido, a fiz ser útil a si mesma. - A velha Caravan ficou pronta, já é nossa vez. - Olhe, eu achei um prego... Vou levá-lo...

MEU SEGUNDO ANIVERSÁRIO

Era festa tanta gente, barulhos gritos, risadas. Crianças tão diferentes, todos estavam contentes Chamavam por mim: venha cá! Pra você, carros, presentes. A mesa estava bonita, quanto doce, quanta fita. Papai, mamãe, que capricho! Tinha trem e tinha bicho. Tinha árvores na floresta, Tinha bala, tinha bolo. Tanta gente, quanta festa! - Filma ele no fuscão. O vovô tem que posar! O maior carro do mundo! Vem Guilherme , vem andar Tá na hora, olha o bolo Acende a vela, pra cantar. - Parabéns! Viva! Viva! É pique, é pique. É hora é hora Acabou tudo vai embora. Fiquei sozinho no vídeo, me vi na televisão. Mamãe, papai, olha eu ! Estou andando no fuscão A festa me faz sorrir A música traz emoção! Uma lágrima vem em meus olhos. O que acontece comigo? Não sei se corro perigo. Mamãe, me abrace forte Doeu aqui no meu peito. Quero dizer o que sinto Não consigo, não tem jeito! - Fique calmo meu filhinho! Um dia vais entender A emoção do chorar Do sorrir e do sofrer. - Quanta vida ainda tem, Quanto tempo pra viver. Estes momentos gravados, Ficarão no tempo guardados, Para sempre renascer. Guilherme (Porta voz) - 1988

CONCEPÇÃO

Vinte e nove de setembro. Era domingo, eu me lembro. Nuvens negras pelo céu. Os olhos ardiam pelo sono perdido Meu coração batia a ansiedade O tempo se demorava O relógio dormia o meu sono Já se passava trinta minutos Ninguém me dizia nada Três e meia, quatro horas Ainda não era tempo A dilatação não servia Dilata, dilata. Batia meu coração Subi correndo as escadas Postei em frente da porta Mas ela não se abria Abre, abre , batia meu coração O tempo passou ligeiro Corre moço, o uniforme Pode me acompanhar? Troque a roupa, vem pra cá Tá na mesa, na cadeira Sei lá Move o tempo, move tudo As pessoas se movimentam Movem também os músculos Se dilatam: contração O rosto dela ardia Eu sentia, eu sentia Travava os dentes de dor Vendo-me deu um sorriso Um sorriso de lágrimas Move os músculos, se contrai De repente a emoção Uma vida se levanta, Uma lágrima vai ao chão Ele é lindo e saudável É o nosso filho, o nosso varão
Paulo Carvalho de Freitas - 1986

NOSSA HISTÓRIA

Querida: No labor da vida, o cotidiano No principio final de uma brincadeira A teus laços amarrei meus planos Ganhei emoções de fato verdadeiras A todo o momento que na vida penso Nas vitórias das lutas que venço O teu semblante reflete no espelho Ao meu lado estarás para sempre Da nossa cultura a fértil semente Do carroção da vida o melhor parelho Fostes feita para seguir comigo o caminho Colhendo rosas ou eliminando os espinhos Na estrada da vida do nosso tempo De mãos dadas a transpassar barreiras A subir montanhas e descer ladeiras Indicando a direção do nosso vento Nas sangrentas lutas que duplicou momentos No fim do principio desta nossa história A força interior que suplantou tormentos Foram os motivos da nossa vitória
Paulo Carvalho de Freitas - 1985

TRIBUTO MATERNO

Satisfeito, do dia perfeito Vou pro leito Recosto o peito, com muito jeito Pra descansar Carente, impaciente Um inocente Pede um presente: leite quente Pro seu ninar Desperta, na hora certa Levanta a coberta Noite deserta, de porta aberta Pro choro entrar Ela caminha, sozinha E uma carinha Se aninha, abre a boquinha Para mamar Agora, a feliz senhora Que o filho ancora Seu sonho aflora, tem sempre estória Pra lhe contar Rodrigo, filho amigo Eu lhe digo Estou contigo e não há perigo Pra se assustar Tranquilo, solta o mamilo No seu cochilo Volta ao asilo, mãe e filho Pra descansar Escuto, vendo o seu vulto Passos ocultos Bendito é o fruto, o grande tributo Do nosso lar
Por: Paulo Carvalho de Freitas – 1990