Era o ano de 1991. O governo Collor de Mello estava assumindo uma postura de acertos econômicos para o Brasil e desacertos para toda a população de classe média.
As indústrias começaram a se organizarem e o conceito administrativo de reengenharia era o que mais se aplicava. Cada setor da economia se arranjava como podia para sobreviver ao confisco das poupanças e das aplicações financeiras.
Neste ano também fomos atingidos de uma forma brutal: perdemos as nossas economias e o nosso emprego.
Que sorte: ainda tínhamos o fundo de garantia... E começamos a buscar um novo emprego.
Foram oito meses de busca e respostas negativas. Acabaram-se as esperanças e começamos a cortar os pequenos gastos supérfluos. A cabeça começou a fraquejar: o que será que acontece, o que valeu estudar tanto. Não podemos ficar a mercê de ser sustentado pela esposa. Eu preciso fazer alguma coisa, mas o quê?
Fizemos: começamos a pensar besteiras, cometer injustiças com a família, tentando culpa-los pela incapacidade. Tudo começou a desabar. Era a depressão.
Percebemos a tempo de não sucumbirmos nos buracos da baixo auto-estima. Fomos procurar ajuda junto aos amigos e recebemos apoio: fomos salvos por três frases bastante curtas – você tem - você pode - você consegue.
Tinha: Deus, a vida, saúde, a família. Podia tudo o que quisesse. Consegui...
Hoje vemos o mundo com mais clareza; buscamos sempre um trabalho direcionado a atividades que dão prazer ou que leva prazer à outras pessoas. Mas vemos a maioria da população, pelo menos esta a que temos acesso, num caos emocional muito grande. As buscas pelo poder, pela perfeição e pelo sucesso financeiro sempre causam grandes perdas ao relacionamento social.
Nós observamos nas ruas e em todos os meios de comunicação a propaganda incoerente de grupos religiosos que fazem milagres de todos os tipos: salvam a alma, salvam a empresa, saram as feridas, curam os aleijados, etc...
Vemos grandes catedrais sendo construídas em nome deste Deus; e dentro destas casas só se falam o nome do Inimigo. Todas as reações do corpo à uma má alimentação, à uma vida sedentária sem qualidade, à uma repressão da família, à uma decepção amorosa (...) Tudo é considerado obra do dele ( o antagônico). É preciso deixar bem claro, é preciso falar o nome dele senão não vale.
Será que estes dirigentes religiosos amam mesmo a Deus, da forma que ele quer ser amado? Como está a comunidade dentro destas grandes catedrais. Como está o amor ao próximo? Onde está a solidariedade entre os irmãos? Será que cada irmão que está clamando a Deus, sabe o nome daquele que está ao seu lado, conhece o problema do irmão, ofereceu uma palavra amiga, quis saber da família (se vai bem), se tem comida na sua dispensa, se tem trabalho para se sustentar, se está sendo amado? (...)
É fácil ser egoísta quando se busca a manutenção das necessidades supérfluas. É preciso ver o ser humano ser egoísta quando estão faltando as necessidades básicas: casa, comida na mesa e paz.
Quantas pessoas poderiam ser salvas se diante das suas lamentações, os “pastores” buscassem o Deus em cada um e não o inimigo.
Se dessem poder aquisitivo para sobrevivência dos fiéis e não saquear o pouco que têm em nome do “dízimo”, da bíblia e de Deus.
Se dessem mais amor a Deus e pedissem menos curas (...)
A depressão e o estresse estão matando muito. E não é por falta de Deus. É por falta de uma palavra amiga, de um carinho, de um momento de prosa...
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