Oito
horas da manhã e os jovens começam a chegar ao local do acampamento.
Mochila nas costas, sorriso no rosto, ansiedade no coração.
No
horizonte o sol tenta se mostrar entre as nuvens que ainda persistem em
atrapalhar o sonho de um dia bonito e cheio de aventuras.
Um
coral de insetos ainda é ouvido entre as folhas de dos eucaliptos e a
grama rasteira que margeia o alambrado do campo reservado para montagem
das barracas. Um pássaro de peito amarelo e topete vermelho vem se
assentar no galho do pinheiro que se coloca inclinado mostrando a
resistência de suas raízes apesar dos vendavais que assolam o seu tronco
nos verões e outonos de chuvas fortes. Será um pica-pau? Não deu tempo
para verificar, outros da mesma espécie chegam e o bando levanta vôo e
se movimentas para outras árvores do derredor.
Alguém
passa com as bandeiras nos braços, e uma fila de meninos uniformizados
se coloca à disposição para ajudar na colocação das bandeiras nas
adriças para hasteamento.
O sol se fez presente, ainda um pouco tímido, mas com jeito imponente pronto para por em jornada as nuvens que rondam o céu.
Três
apitos se ouvem como um grande chamado. Vai iniciar a brincadeira com a
seriedade de um modelo patriota de formação de caráter. Com a formação
quase militar, os meninos e meninas se colocam em fila indiana em
movimentos de braços e bastonetes e com palavras de ordem que são
proferidas num tom alto e determinado:
- Patrulha, cobrir. Monitor, patrulha pronta. O grito!
- Chefe, Patrulha Andorinha se apresentando.
- Descansar...
A cerimônia de hasteamento das bandeiras é simples, mas de muito respeito.
- Hoje é a meio mastro, estamos de luto oficial.
- Em saudação às bandeiras, hastia!
Sob os olhares silenciosos do grupo, as bandeiras deslizam até o topo do mastro e descem em posição.
- Descansar!
Muita
energia exala de cada jovem. A vontade de fazer as atividades do dia
propõe a cada um uma sequência de ações que é orquestrada por uma
disciplina conquistada ao tom de pequenas ações. O trabalho em grupo é a
principal ferramenta de trabalho dos monitores e chefes.
Barracas,
cozinha, portais, pioneirias, de repente o terreno vermelho de terra
batida ganha cores e movimentos de vida. Sisais e bambus se transformam
em cercas, mesas, e muitos objetos de uso coletivo. Estruturas amarradas
viram espaços cobertos com grandes lonas prontas para montagem das
cozinhas e intendências.
Com
a utilização de conhecimentos adquiridos no adestramento de cada
especialidade, os jovens se tornam capazes de fazer coisas básicas como
cozinhar alimentos básicos, prestar socorro, utilizar ferramentas de
mão, orientação através de bússola e sinais naturais, reconhecer insetos
e animais silvestres bem como os bichos peçonhentos da natureza.
Diversão e jogos intercalam as cobranças de atitudes e o peso da aprendizagem fica ameno.
Após
o jantar, os esquetes do fogo de conselho sugerem uma dinâmica própria
de desencantamento e desinibição induzindo ao drama, histórias do
cotidiano e mensagens ligadas ao tema escolhido vão sendo contadas de
forma cômica e divertida fazendo sorrisos e gargalhadas brotarem nos
rostos avermelhados dos jovens expostos ao calor da fogueira que dançam
em labaredas orquestradas pelo vento.
O
equilíbrio pondera os erros, a técnica de aprender fazendo, conquista
segurança no trabalho a ser feito, como nas decisões a serem tomadas. O
respeito ao individuo e os valores inerentes a cada etapa da formação da
personalidade, vão sendo inseridos no pequeno cidadão de forma simples e
sem traumas.
A
previsão de chuva acelerou o processo de desmontagem das barracas.
Alguns reclamam o final da atividade outros reclamam a saudade de casa,
mas enfim todos se orgulham da soma dos pontos conquistados nas diversas
inspeções e apresentações das patrulhas.
Ao toque de três apitos é traçado mais um final.
As
condecorações entregues emocionam aos jovens e aos pais. As conquistas
são como troféus dispostas no uniforme a representar uma caminhada passo
a passo nas trilhas de Badden Powell.
- Chefe Patrulha pronta.
- Arrear a bandeira.
- Descansar
- Debandar
O
caminho de casa é a busca de ao banho de ducha e ao chocolate quente
preparado com carinho pela mamãe. Mas ficarão presentes em suas memórias
estes momentos com certeza serão contados ou escritos como histórias em
algum lugar do futuro.
Jovens: de malas prontas para viajar em busca do comando do mundo.
Escoteiros:
um bilhete comprado e marcado para seguir nas alegrias de muitas
aventuras e fechar com a responsabilidade de preservar o que resta da
natureza.
Paulo Freitas
14/04/2011