... E O HOMEM CRIOU DEUS!

Um dia a paz reinava no mundo e tudo era belo e silencioso.



Deus criou o homem e ficou feliz.

Ele com a sua sabedoria, encantou as florestas com os pássaros para entoar nossos ouvidos com suas melodias; vislumbrou as montanhas com rios e cachoeiras para encantar nossos olhos; acendeu o sol com a sua luz de energia para regenerar a vida; soprou a brisa para acalentar a luz do sol. E a natureza respondeu produzindo alimentos.




E o homem criou Deus.

Um Deus que avança na ambição, que recolhe dinheiro em sacolas, que desmata, queima, aprisiona.

Um Deus que grita, estanca, polui, que mata.



Onde está o verdadeiro Deus?

O Deus que me deixa pegar frutas no cerrado, observar os pássaros da florestas, os animais nos pampas.
Comer jatobá, macaúba, mangaba, barú, ananais, pequi, araticum e gabiroba.

Saborear amoras colhidas na ribanceira, os veludos e azedinhas nos grotões da mantiqueira.



Eu quero o meu Deus de volta. Ele sim é capaz de transformar a sua propria criação para inverter o invertido, e fazer para mim um mundo mais divertido. Com pessoas que sorri, que conta história, que pula e se emociona.



Eu quero de volta o meu Deus...


Paulo Freitas/2010





quinta-feira, 26 de abril de 2012

HISTÓRIAS NO SESC BERTIOGA



Guiados pela vontade de conhecer o SESC Bertioga, viajamos numa terça-feira rumo ao litoral sul.
O tempo começara bom, iniciamos a viagem por volta das dez horas da manhã e o sol tentava mostrar o seu rosto tímido no céu ainda meio cinzento. Numa parada no restaurante, já na Via Dutra, uma rápida chuva nos livrou do perigo de estar na estrada.
A estrada estava tranqüila e o conforto do GPS nos guiou com algum desacerto até os portões do nosso destino.
Chegamos ao recanto de lazer  dos SESC por volta das quatorze horas, e o cansaço da viagem não nos deixou observar a grandiosidade daquela colônia. Toda recoberta por uma flora nativa, as praças insistiam em se cobrir de folhas, dando aos jardineiros trabalho redobrado na coleta  e na limpeza.
Com um pequeno “tour” depois da portaria, seguimos direto par o restaurante, pois o avançar das horas nos trazia certo vazio  e uma vontade imensa de alimentação.
Conhecer o apartamento foi a penúltima atividade da tarde, pois logo  descobrimos uma lista de atividades diárias, oferecidas pelo  complexo,  que atendiam a todas as idades e gostos,  começando pelas brincadeiras infantis passando por atividades esportivas e físicas  terminando  com trilhas e passeios em pontos ecológicos  e históricos da cidade.
Um rápido passeio na praia nos presenteou com os últimos raios de sol e o seu poente mostrou-nos as belezas das paisagens que circundam a região montanhosa desta cidade.
Um passeio descrito  como trilha das águas estava previsto para quarta-feira  (no dia seguinte) a partir das oito horas da manhã, onde a proposta era de conhecer o ponto de captação de água que abastece toda a estrutura SESC Bertioga. Inscrevemos-nos.
Ainda tínhamos a noite:  conhecemos as lojas, salão de jogos de mesa, informática e auditório e fomos dormir ansiosos para o grande passeio da manhã do dia seguinte.
Amanheceu com um  dia meio chuvoso, o céu cinzento insistia em nos fazer desistir do passeio. O café da manhã nos fez criar mais energia e decidimos que nada nos faria desistir do nosso intento.
Carregando na  mochila água, capa de chuva, boné máquina fotográfica, filmadora e uma fruta, enfrentamos o chuvisqueiro para alcançar a  marquise do restaurante onde o ônibus já estava a postos.
O trajeto do ônibus até o Rio itapanhaú (pedra preta mole) por onde fizemos a travessia, foi rápida e tranqüila. O tempo parecia que ia dar uma trégua, mas os mosquitos insistiam em perturbar o sossego dos trilheiros. Uma boa borrifada de repelente amenizou os males e seguimos em frente.
O clima era de muita expectativa e alegria. Apesar do tempo chuvoso, todos estavam dispostos e com muitas questões sobre todo aquele ambiente novo onde éramos colocados a caminhar.
A equipe do SESC que nos guiava era formada por um Engenheiro Florestal Sr. Juarez, técnica ambiental Sra. Luciana  e um grande conhecedor da região chamado Roberto, mais conhecido como “Queijão” que diz a lenda que quando pequeno era conhecido como “Polenguinho”.
A marca registrada do Mangue é a presença da vegetação diferenciada com raízes submersas e a fauna onde predomina diversas espécies de caranguejo. O mangue era quem dá nome ao Rio, pois o barro preto que prevalece como suporte às plantas e aos animais, era chamado pelos  índios tupis como “pedra  preta  mole”, isto é itapanhaú.
Transpassado o mangue, e mata de restinga, chegamos a outro tipo de vegetação, mais densa   com a predominância de árvores mais altas e palmeiras,  que conforme os nossos especialistas e guias, era a famosa mata atlântica.
A riqueza da flora destas matas nos deixou boquiabertos. Ao longo da trilha podemos observar inúmeros tipos de avencas, samambaias e bromélias.  Muitas espécies de palmeiras e a típica “banana de macaco” que alem de alimento pode ser usada  como planta medicinal.
A beleza da cobertura do solo esconde pequenos insetos e muitas espécies de repteis e anfíbios, que no nosso cotidiano nem pensamos em encontrar. Um olhar atento e observador pode-se descobrir coisas fantásticas.
A terra úmida pelas  gotículas da chuva liberava em nós um cheiro gostoso da relva, que transcendia o nosso olfato para criar em nossas mentes um gostoso retorno à infância, trazendo de volta lembranças das brincadeiras nas corredeiras barreadas das chuvas nas encostas de terra vermelha recém-lavrada para plantação.
De repente alguém encontrou um pequeno animal que transitava pela trilha aos pulos e comunicou ao “Queijão”.
- Roberto, tem um sapinho estranho aqui!
- É uma  perereca. É da família das Polypedatidae, mais conhecida como mini-perereca – disse o Roberto. - Tem muitas espécies delas nesta mata. Existem outras espécies como a Phylomedusa que são muito estudadas no Brasil pelas cores nacionais. São as pererecas verde-amarelas, tão pequenas como o dedo da nossa mão.
Seguindo a trilha das águas, as estórias foram sendo contadas. O  Engenheiro Florestal Sr. Juarez, falou sobre  a influência do SESC Bertioga na vida dos moradores desta cidade. A preocupação incessante em relação  ao meio ambiente, o SESC foi buscar na montanha a captação da água para abastecer colônia  e promover consorcio  com a Prefeitura no  controle do meio ambiente.
O tratamento do esgoto também é uma prioridade do SESC Bertioga, que devolve ao rio a água com 90 % de pureza, com recursos próprios.
O final da trilha é o ponto de captação de água. Como um oásis que de repente surge no deserto, no alto da montanha surgiu uma casinha feita em alvenaria com uma pequena infraestrutura para abrigar um segurança e equipes de manutenção que  permanece vigiada 24 horas por dia. Água pura para os cantis, banheiro para as necessidades básicas e até um cafezinho feito no fogão de lenha  com gosto e  cheiro de casa de caboclo.
Incrustada ao pé de uma pequena cachoeira, a  captação de água é feita por duas tubulações: uma antiga e outra mais recente por onde a água é captada pura no alto da montanha,  fresquinha e transparente como na bica  na nascente.
Na volta, descendo trilha abaixo,  fomos premiados com um banho de cachoeira de vinte minutos que valeu como um exorcismo da poluição que contaminava o nosso corpo. Voltamos tranqüilos  para a sede da colônia do SESC, mais  puros e mais conscientes sobre o  mundo em  que vivemos e sobre a preservação do meio ambiente.
No SESC, as histórias de Bertioga, são contadas através dos passeios como o que aconteceu no dia seguinte quando participamos da trilha do Rio Jaguareguava (Onde a onça bebe água), um dos afluentes do Rio Itapanhaú.
Neste dia o tempo colaborou um pouco deixando o céu mais aberto e com poucas nuvens. O translado com ônibus demorou um pouco mais e a trilha, bem mais curta, seguiu direto floresta de encosta da serra do mar pela mata atlântica. Aos poucos nos embrenhando pela mata e ouvindo histórias e lendas contadas pelo Guia e ex palmiteiro  Genivaldo, que entre outras nos contou  sobre o tempo em que participava efetivamente das coletas ilegais do palmito Jussara que antes eram exploradas por “palmiteiros” profissionais, hoje pela lei é preservada e faz a beleza no interior da mata.
No  final da trilha existe  um amontoado de tijolos com estrutura em concreto, bem às margens do Rio Jaguareguava. Segundo o nosso Guia Genivaldo, neste lugar funcionava um ”porto de areia” onde os empresários invadiam a mata preservada e sugava do leito do Rio areias de construção, interferindo no seu curso, na vida aquática e na mata ciliar protetora das margens e na vida da cidade. Com a aplicação da Lei e a fiscalização dos órgãos competentes os empresários foram expulsos e a natureza seguiu seu curso.
Neste passeio tivemos a oportunidade de conhecer com mais intensidade a exuberância da flora local e influencia do SESC no crescimento do turismo local e  na vida dos caiçaras, que encontrou nesta instituição novas oportunidades de trabalho e de vida.
Entre as histórias de Bertioga está inserida também a História do desenvolvimento e da interiorização  do Brasil que envolve os índios Tupinambás, os navegadores portugueses e o Padre Anchieta. 
Foi num passeio histórico liderado pelo pesquisador Carlos Eduardo de Castro, o Cadú, que viajamos pelos caminhos do Forte de São João  onde nos anos de 1531, travaram-se grandes lutas entre os Tupiniquins e os Tupinambás ( índios antropófagos) que eram aliados dos franceses na ocupação do litoral brasileiro. Entre uma história e um poema, a nossa imaginação voava  séculos no tempo e a descoberta pela verdadeira história do Brasil nos envolvia com lendas pitorescas com nomes como Hans Staden, um alemão aventureiro que ajudou na defesa no nosso território dos franceses e que foi comido pelos índios.
A nossa imaginação viajava ainda pelos arcos e flechas e das grandes invasões europeias,  quando o nosso  Cadú navegou pelos Porões das embarcações escravagistas  e trouxe à tona o tempo do comércio de escravos e fechou com a beleza do poema de Castro Alves: “O Navio Negreiro”, ambiente nacional que deu sequencia ao ciclo econômico do Brasil da Cana de Açúcar.
Voltamos para a Colônia com uma visão diferente da nossa história e com um desejo enorme de aproveitar também os dias de calor que o astro rei nos proporcionou nos últimos dias de nossa estada, que nos glorificou com a saúde do corpo, purificação da alma  e engrandecimento da mente.

Paulo Freitas
Janeiro / 2012

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