... E O HOMEM CRIOU DEUS!

Um dia a paz reinava no mundo e tudo era belo e silencioso.



Deus criou o homem e ficou feliz.

Ele com a sua sabedoria, encantou as florestas com os pássaros para entoar nossos ouvidos com suas melodias; vislumbrou as montanhas com rios e cachoeiras para encantar nossos olhos; acendeu o sol com a sua luz de energia para regenerar a vida; soprou a brisa para acalentar a luz do sol. E a natureza respondeu produzindo alimentos.




E o homem criou Deus.

Um Deus que avança na ambição, que recolhe dinheiro em sacolas, que desmata, queima, aprisiona.

Um Deus que grita, estanca, polui, que mata.



Onde está o verdadeiro Deus?

O Deus que me deixa pegar frutas no cerrado, observar os pássaros da florestas, os animais nos pampas.
Comer jatobá, macaúba, mangaba, barú, ananais, pequi, araticum e gabiroba.

Saborear amoras colhidas na ribanceira, os veludos e azedinhas nos grotões da mantiqueira.



Eu quero o meu Deus de volta. Ele sim é capaz de transformar a sua propria criação para inverter o invertido, e fazer para mim um mundo mais divertido. Com pessoas que sorri, que conta história, que pula e se emociona.



Eu quero de volta o meu Deus...


Paulo Freitas/2010





terça-feira, 28 de setembro de 2010

INVERSÃO DE VALORES

Uma manchete do jornal nos chama a atenção:” Um carro-bomba explodiu em Jerusalém”. “Com certeza foram grupos militantes palestinos” afirma o correspondente do jornal. Será a mesma Jerusalém da bíblia? Serão os mesmos palestinos? O que faz com estes povos se enfrentam tanto? O mundo é movido por interesses. A quem interessa esta guerra? Aos Estados Unidos? É certo que muitos tipos de armas estão sendo testados nos campos de batalha de Israel. Muitos mísseis, muitos tanques. O povo é usado como massa de manobra.Aqui no Brasil também vivemos uma guerra. De um lado bandidos organizados com armas sofisticadas e de outro a polícia sempre mal avisada, surpreendida e mal aparelhada (mal preparada). Enquanto os traficantes de armas e drogas usam micro-câmeras, Internet, tecnologia de última geração, os policiais brasileiros continuam a usar o revólver calibre 38 (ou de 1938) como arma de mão. A quem interessa esta guerra? Porque não se prendem os cabeças? Será que não se sabe quem são? Porque será que a CPI do Narcotráfico sempre esbarra em políticos, empresários, religiosos e poderosos que nunca vão para a cadeia? Os valores estão se invertendo. Os bandidos estão controlando a polícia, os bairros, as cidades. Daqui a pouco, muito pouco, os bandidos irão controlar as prefeituras, o estado, o país. Que direito é este que o bandido tem de usar telefones celulares nas celas, televisor a cores, cardápio nutricional, serviço de saúde especial e ar condicionado? Porque nós, cidadãos de bem não o temos. Nós também temos direitos de ter direitos.Quem mantém estas ONG’s ( Organizações Não Governamentais) que defendem os direitos humanos dos bandidos? Teremos também uma ORGANIZAÇÃO GOVERNAMENTAL que defenda nossos direitos?

sábado, 18 de setembro de 2010

PASSAMENTO

Estremece onde ela passa,
o medo interrompe o riso.
Apaga-se a visão do paraíso,
Estrada esburacada sem horizonte.
Imagino somente dor por trás dos montes.
 A cobra prepara o bote a chacoalhar o guizo

Uma nevoa de esperança,
Que o vento esmaga.
 O fio de luz quase se apaga .
Nos arredores preces e orações .
As energias de Deus, sagradas emoções.
 Com a inimiga da vida, principia a saga

Reflexos de cores,
Luzes cirúrgicas se faz presente,
Brancos aventais me cobrem a mente.
 Liquido venoso me leva ao sono .
Transformo num corpo em abandono.
 Bisturis em riste, cortes contundentes

Esvai-se a alma fica o silêncio,
Momentos rápidos de decisões.
 Dilema de duas contradições .
Arriscar tudo é o sensato.
 Ferramentas tilintam no aparato.
Morte súbita numa posição.

Dilacera corpo inerte,
 Dentro de minha alma arranha.
oentes órgãos das minhas entranhas,
Ágeis mãos de homens benditos.
Energias divinas que acredito .
Formam trincheiras na batalha ganha.

Passei da vida por um minuto.
Senti a morte por um momento .
Dois dias de passamento .
Lembranças brancas, sem cores .
A Deus devendo favores .
Aprendi a amar com mais intento.

Set/2010

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A BOMBA DE 70

A nossa cachorrinha ficou proibida de entrar para dentro de casa. É uma norma que é obedecida quase sempre. A exceção é quando, por motivo de jogos de futebol ou outro evento de comemoração, soltam fogos de artifício. Dá muito dó de ver o desespero do animal a procurar um lugar seguro para se esconder. Ela enfrenta toda a autoridade da casa, invade a sala e o quarto para se enfiar debaixo da cama, e de lá só sai quando percebe que o perigo já passou. Ou então para buscar outro esconderijo. Aí sim, somente nesta condição fica liberada. Eu não sou cachorro não, mas todas as vezes que escuto barulho de rojão fico também muito assustado. O meu coração acelera parecendo um martelo pneumático, daqueles que quebram os concretos por aí. Lá em casa nunca entrou nenhum tipo de bomba ou rojão. Os meus filhos, quando eram pequenos, pediam pra comprar bombas e eu logo respondia: - Se quiserem, eu compro traque, mais do que isso eu não compro,não. O meu sogro compra pra soltar lá no sítio dele. Diz que é para espantar os bichos que rondam por lá e dão prejuízos: as lontras que roubam os peixes do açude, os gambás que mexem com as galinhas e outros animais silvestres noturnos que insistem em buscar alimentos nas criações do sítio. Mas em tempos de comemoração ele também solta rojões. No dia de Nossa Senhora, 12 de outubro, ele sempre queima uma ou duas caixas de rojões de três tiros para comemorar. Se ele fica feliz por alguma vitória alcançada ele solta as bombas e grita viva. Eu já fico longe destas atitudes. Sempre acho que vai acontecer uma tragédia. Igual àquela que aconteceu quando eu era menino com o Mané Vilela, um colega de escola e vizinho na minha cidade natal, no interior do estado de São Paulo. Era mês de junho, naquela época ninguém tinha muito controle sobre as vendas de fogos de artifício como hoje. Qualquer um podia comprar bombinhas no armazém do Seu Osvaldo Calgari. Lá tinha desde traque até bomba de 100, que eram aquelas de arrebentar latas de vinte litros com cinco tijolos em cima, um perigo. Os meninos pediam dinheiro pra mãe pra poder comprar balas e ia ajuntando até ter o bastante para compras as bombas. Naquele dia o Mané Vilela, filho do Seu Miguel, que era nosso vizinho de sítio, tinha comprado algumas bombas. A gente estudava de manhã: entrava às sete horas e saía às onze, que era tempo de ir pra casa e ainda pegar no batente no período da tarde. O Mané fez muita propaganda das bombas que comprou, por isso a escola toda estava sabendo que ele iria fazer um barulho enorme com elas. Tinha uma bomba de 70 e outras tantas de 50, estava tudo preparado para soltar logo na saída do portão da escola. Os alunos foram saindo e se aglomerando na rua, aguardando o show prometido. O Mané Vilela foi descendo a escada que dava acesso ao portão e verificou no embornal pendurado no pescoço se as bombas estavam lá. No bolso do calção, uma caixa de fósforos que trouxera de casa balançava no toque firme ao chão dos pés calçados com o “sete- vidas”, um calçado tradicional da época. Mané Vilela parou no centro da aglomeração, enfiou a mão dentro do embornal e escolheu uma bomba de 50, puxou a caixa de fósforo do bolso e preparou para acender o estopim. Todos se afastaram para dar espaço para a explosão. O Pedro, filho do Tatinha, um menino da quarta série, trouxe uma lata de massa de tomate, que era para cobrir a bomba para que ela tivesse mais impacto. - Sai de perto que eu vou soltar. – falou bem alto o Mané. – Sai todo mundo de perto. – repetiu. Riscou a bomba na lateral da caixa de fósforo e jogou. A bomba caiu no chão e o Pedro saiu correndo em direção à ela e cobriu-a com a lata de massa de tomate, cobriu-a e voltou correndo. - Bummm!. – a latinha subiu por mais de dez metros de altura e caiu despedaçada no chão. Todos aplaudiram. - Agora eu vou soltar a de 70. – comunicou. – Sai todo mundo de perto. Pegou a bomba, a caixa de fósforo e riscou. Quando ele jogou a bomba, pareceu que não tinha acendido o pavio. Esperou um pouco e nada aconteceu. - Falhou. - disse . Caminhou correndo em direção à bomba para riscá-la novamente, apanhou- a pelo corpo de pólvora, posicionou para acendê-la, mas a bomba já estava acesa. - Bumm!! Uma grande explosão se ouviu, um grito de sangue e de dor marcou aquele momento. Dois dedos da mão direita do Mané Vilela foram decepados e um fluxo de sangue jorrou no chão. A sua barriga também ficou um pouco queimada, mas a camisa o protegeu. - Socorro! Ajudem! - A pane foi geral. As crianças todas correram em direção às suas casas, assustadas com aquela tragédia Muitas pessoas adultas vieram correndo e levaram o Mané para a farmácia. Depois é que ficamos sabendo que o Mané perdeu também um pouco da visão por causa daquele acidente. Todos foram para casa cabisbaixos. O resto do dia foi de tristeza. A história serviu de exemplo para os pais ficarem mais atentos com as crianças na hora de autorizarem o uso de fogos. A escola proibiu as crianças de soltarem bombas no portão da escola, mas na mão do Mané Vilela ficaram faltando dois dedos. Depois daquela tragédia, eu nunca mais quis participar de nenhum evento que fossem usados fogos de artifício, não por medo, mas sim por respeito ao poder da pólvora, que é uma das substancias principais que se junta para construir armas de destruição. Paulo Freitas – Set/2010

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

MEU PÉ DE TAMARINDO

O pé de tamarindo da minha infância Ainda balança nos meus sonhos de menino Seu caule que um dia pequenino Cresceu fazendo sombra aos meus brinquedos Cobriu de esperanças os meus primeiros medos Foi tela de minhas arteirices e lembranças Num palco de pedregulho, ostensivo chão Seguindo o veio de raízes despedaçadas Com ferramentas de pedras, construí estradas Transportei sementes de sonhos infantis Nas poças secas, pesquei bagres e lambaris Pequenos córregos eram rios de imensidão No pé de tamarindo da minha infância Construí caminhos suaves de futuro Que transcenderam a parede e o muro Numa aeronave qualquer ganhou alturas Um vôo suave de aventuras Sonhos de vida em abundancia As folhagens que sombreiam minha emoção Escondem frutos de sentimentos e alegrias Meu pé de tamarindo das fantasias Norteou minha vida à realidade Cavou no peito uma raiz de saudade Criando uma gostosa dor no coração.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

BIENAL DE EMOÇÕES

A van estava parada defronte ao Largo do Pará em Campinas. Todos estavam ansiosos para tomar seus lugares para visitar no Parque Anhembi a XXI Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Pessoas estranhas se entreolhavam a buscar no outro um particular ou um motivo para iniciar uma conversa. O condutor seguiu em movimento cumprindo o seu papel. A viagem foi curta, mas com tempo suficiente para cumprir uma relação de amizade que se tornou forte na medida em que os objetivos em comum foram se tornando concretos em frases rápidas de trocas de endereços eletrônicos, informações, poesias, livros e sonhos. O saguão do parque mostrava painéis com nomes de grandes editoras, escritores famosos, imortais e grande quantidade de títulos desfilavam aos nossos olhos. A cada frase escrita nos levava a um passeio diferente no tempo e no espaço: contos, poesias, receitas culinárias, auto-ajuda, dietas, buscas, encontros, como fazer isto e aquilo. O Sarau da Silvia, para o qual estávamos convidados começaria às oito horas da noite. Estávamos com tempo disponível para vasculhar o espaço todo. Um grande estande nos chamou a atenção pela sua estrutura e pelo nome que ostentava em sua frente: MELHORAMENTOS. Logo que entramos, vimos um senhor que pelos seus cabelos brancos, aparentava uns oitenta anos, a remexer nas prateleiras de livros de receitas na sessão de culinária. Aquele homem nos chamou a atenção: além da sua idade avançada, mas também por estar portando uma tala de gesso no antebraço esquerdo o que imobilizara este membro através de uma tipóia presa ao pescoço. Não resistimos e fomos logo fazendo um contato para iniciar uma conversa. Ele nos disse que estava olhando os livros de receitas, mas que estes livros tinham muitos ingredientes sofisticados. Disse ter trabalhado num restaurante quando ainda era moço e que naquele tempo se fazia os pratos com temperos simples comprados no mercado municipal. Hoje são tantos nomes estranhos que (...). Agora ele estava aposentado; há dez anos ensinara dança num clube de São Paulo do qual se orgulha muito e até hoje dança nos bailões da terceira idade. Falou-nos do seu tempo de menino, da liberdade de brinquedos, do respeito das pessoas e das diferenças sociais. Relembrou as festas da juventude, de suas namoradas e da sua virilidade; dos passeios com amigos e das notas na escola. Criticou os governantes, a política e as guerras da infância. Relatou com muita saudade de sua amada e companheira, mostrou-nos como foi sublime ter sua missão cumprida. A conversa rendeu quase uma hora de histórias. Talvez um livro completo. No final das contas demos um grande abraço naquele homem desconhecido e o beijamos em sua face áspera com a barba por fazer, tiramos uma fotografia e demos a ele um livro de nossa autoria que o deixou com os olhos umedecidos e a voz embargada de alegria e agradecimento. Em toda Bienal encontramos livros de todos os tipos, escritos em diversas línguas, diversas formas e tamanhos. Mas ninguém, temos certeza, ninguém encontrou o livro mais sofisticado que nós. Encontramos um livro vivo, que trazia em sua capa o pó das viagens de vida, e nas páginas amareladas as orelhas causadas pelas repetidas vezes que as folhearam em busca de ensinamentos e experiências. Um livro que não precisava de olhos para ver, nem braços para segurar, apenas ouvidos para ouvir e muitas emoções para sentir. Trouxemos conosco algumas páginas desse livro em nosso pensamento e que serão lidas todas as vezes que encontrarmos alguém que queira ouvir esta história.