... E O HOMEM CRIOU DEUS!

Um dia a paz reinava no mundo e tudo era belo e silencioso.



Deus criou o homem e ficou feliz.

Ele com a sua sabedoria, encantou as florestas com os pássaros para entoar nossos ouvidos com suas melodias; vislumbrou as montanhas com rios e cachoeiras para encantar nossos olhos; acendeu o sol com a sua luz de energia para regenerar a vida; soprou a brisa para acalentar a luz do sol. E a natureza respondeu produzindo alimentos.




E o homem criou Deus.

Um Deus que avança na ambição, que recolhe dinheiro em sacolas, que desmata, queima, aprisiona.

Um Deus que grita, estanca, polui, que mata.



Onde está o verdadeiro Deus?

O Deus que me deixa pegar frutas no cerrado, observar os pássaros da florestas, os animais nos pampas.
Comer jatobá, macaúba, mangaba, barú, ananais, pequi, araticum e gabiroba.

Saborear amoras colhidas na ribanceira, os veludos e azedinhas nos grotões da mantiqueira.



Eu quero o meu Deus de volta. Ele sim é capaz de transformar a sua propria criação para inverter o invertido, e fazer para mim um mundo mais divertido. Com pessoas que sorri, que conta história, que pula e se emociona.



Eu quero de volta o meu Deus...


Paulo Freitas/2010





sábado, 8 de janeiro de 2011

CACHOEIRAS EM SÃO LUIZ DO PARAITINGA


- Neste final de ano eu quero fazer um passeio diferente. – dizia a minha esposa.
- Eu quero um lugar que tenha cachoeira e tranqüilidade. Ou então vamos para a praia. Passeio na praia estava descartado, pois todos nós sabemos que é a maior roubada descer ao litoral para o réveillon. É o caos: falta água, sobra chuva e muitos estresses no caminho de volta.
- Porque você não vai para Conceição do Ibitipoca? – sugeriu um amigo professor.
- Lá tem um Parque com muitas cachoeiras e é muito gostoso. Tem muitas pousadas e chalés. Fica em Minas Gerais perto de Juiz de Fora. Eu já fui várias vezes e gostei muito. São só 510 quilômetros até lá. - Só? Isto quer dizer umas cinco horas ou mais de viagem. Não sei não. Tudo bem. Levei a sugestão para casa e mostrei para a família.
Não aprovaram. Entrei na internet e digitei no Google:“cachoeiras SP”. O primeiro link me chamou a atenção: trilha das 7 cachoeiras: abri e verifiquei que se tratava de uma pousada em São Luiz do Paraitinga que proporciona passeios em trilhas.
 - São Luiz do Paraitinga? Não é aquela cidade do vale do Paraíba que ficou famosa no começo de 2010, quando sua igreja central foi filmada vindo abaixo depois de uma grande cheia do Rio Paraitinga, e cobriu todo o Centro histórico da cidade?
- Isso mesmo. Vai ser interessante conhecer. Depois de navegar um pouco pelas paisagens e pousadas da região, o nosso interesse aumentou e levamos a idéia já bem amadurecida para a família.
Estava quase terminando o ano velho quando decidimos reservar espaço e ligar nas pousadas. Foi difícil encontrar disponibilidade. Mas a sorte estava do nosso lado e uma alma boa nos respondeu positivamente. Fechei na hora sem ao menos saber direito o preço.
A Pousada Recanto Fazendinha foi construída com materiais totalmente garimpado em demolições, o Rosano e a Maria Inês, construíram um recanto de amigos estilo fazenda. As portas internas e externas dos quartos não têm fechaduras, demonstrando a confiança na escolha de cada convidado, eles são fechados somente com as primitivas tramelas. Cada espaço da pousada reflete o carinho na escolha da decoração, dos móveis e da iluminação. O Bar é do sistema self-service, você toma a cerveja, o vinho ou drink e marca na comanda.
O Centro histórico da cidade é um show de paisagem. Cada construção é uma obra de arte, cada pessoa um personagem de um teatro que muda de cenário a cada esquina que viramos. Uma ponte em arco, um luminária com lampião da década de 30, um chafariz de metal fundido de 1800 e toda a arquitetura tombada, com as peculiaridades de um tempo que ficou na história. Paredes em taipas de pilão, portais em relevo e cores deslumbrantes. Algumas casas em reforma mostravam as paredes desnudas como feridas a serem curadas. Cada comerciante expondo suas fachadas em cores vivas, parecendo um grande parque feito com casas de bonecas Acabamos por jantar num bar e restaurante típico, que servia pratos feitos, onde o garçom é o próprio proprietário. As paisagens naturais da região também são deslumbrantes. O passeio das cachoeiras será lembrado pra sempre por todos os trilheiros que nos acompanharam na aventura. As quedas d’água formam um grande véu e cada um deles desenha um esplendor diferenciado, fazendo-nos encantar a cada metro percorrido por entre as árvores e cursos d’água. O frescor da trilha e a umidade do ar, fez derramar sobre nós uma brisa fina em todo percurso, fazendo com que o nosso passeio se tornasse particular e único.
A falta de equipamentos e a inexperiência dos participantes fizeram cada transposição uma aventura peculiar. O nosso guia, com seu sotaque caipira, trouxe-nos uma alegria contagiante, contando histórias e lendas de Monteiro Lobato, como do Saci-Pererê e da mula–sem-cabeça, terminado com uma surpresa na casa da Dona Dolores, servindo um lanche natural para restabelecer as forças para o retorno.
A chuva aumentou de intensidade e a volta foi mais comedida e com uma maior preocupação com a segurança. Chegamos em paz, muito bem recepcionados e muito molhados para a Ceia das quatro horas. Galinha caipira ao fogão de lenha, arroz integral socado no pilão, feijão rosinha, salada de palmito entre outras opções, nos fizeram permanecer à mesa por mais tempo, terminando com um gostoso doce caseiro.
A chuva que chove em demasiado em São Luiz do Paraitinga, é a mesma chuva que devia chover nas grandes plantações de milho e soja que se perdem nos descampados do interior. Sem as matas preservadas, as chuvas se concentram em pequenos espaços e faz transbordar os rios e ribeirões trazendo inundações e castigos aos ribeirinhos.
A gente só descobre a destruição da natureza de verdade, feita pelo homem, em momentos como este, quando vimos cantinhos preservados na Mata Atlântica onde podemos ainda conhecer espécies da flora e da fauna que temos visto somente através de imagens reproduzidas nos livros e clipes feitos por profissionais da mídia. As plantas, seres vivos assim como os animais e os humanos, têm direito à vida.

A destruição da natureza é a destruição da vida. Se não houver uma conscientização urgente das novas gerações para preservar o que ainda existe, seremos condenados pelo nosso planeta a nos esconder de catástrofes cada vez mais intensas e sobreviver de migalhas deixadas nos caminhos dos ventos, dos mares e tempestades.

Paulo Carvalho de Freitas
08/01/2011

Um comentário:

  1. Caro Paulo,

    Você tem o dom da narrativa. Uma história muito bem contada que nos prende do início ao fim. A defesa da natureza é uma bandeira a ser levantada por todos nós. As futuras gerações só poderão desfrutar daquilo que você descreve se houver conscientização do homem e do seu papel na sociedade, preservando o meio-ambiente e também seus semelhantes. Juro que fiquei com vontade de estar em São Luiz do Paraitinga.
    Abraços,
    Herval

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